Cinco milhões de mulheres: este é o número de casos no Brasil de endometriose. A doença é uma das principais causas da infertilidade. Neste contingente, uma bageense, que além de lutar contra a doença, buscava a realização de um sonho, fato que parecia impossível diante do cenário da endometriose. Mas que foi realizado. Da luta nasceu Vitória Antunes Vilaverde de Moutinho, hoje com 4 anos.
A luta da informata, funcionária pública, Cássia Antunes, contra a endometriose, começou em 2000, quando o mal foi diagnosticado. “Sinto dores, febres, fazia inúmeros exames e nada. Não tinha ideia do que estava acontecendo, mas, obviamente, a gente sempre acaba pensando no pior. Que Deus me ajude (depoimento de Cássia no seu livro Endometriose X Maternidade: a dor, a perda e a Vitória)", diz. Quando a funcionária pública descobriu a doença, o cenário ainda era complicado e, segundo relatos do marido, André Vilaverde, que conta a trajetória de sua esposa, os médicos não sabiam de fato como tratar a enfermidade.
Os sintomas como as dores no ventre e nas pernas e a menstruação irregular colocaram a informata em alerta e a fizeram procurar um médico. “Acabara de completar 25 anos e, de repente, apareceram muitas dores nunca sentidas antes, principalmente no período menstrual, tipo cólicas violentas. Sentia uma dor no baixo ventre que refletia nas costas e nas pernas. Quando começaram a ficar mais frequentes resolvi procurar um médico”, conta (trecho do livro).
Após vários exames, veio a constatação de que a funcionária pública tinha um grande cisto no ovário esquerdo. Depois de consultar alguns médicos, um dos profissionais, em fevereiro de 2000, marcou a cirurgia para o dia seguinte, para a retirada de todo o ovário esquerdo.
O cisto foi encaminhado para a biópsia e identificado como endométrio. A partir de então, se deu início à luta contra a endometriose e a sequência de procedimentos por qual ela passaria. A promessa era que com a retirada a doença amenizaria, já que não tem cura. “O diagnóstico de endometriose se confirmou, estou muito perdida, ninguém sabe nada sobre a doença. As explicações são vagas e nada seguras, acredito, tenho medo de ser algo terrível e voltar a sentir aquelas dores”, relata no livro.
Depois da união, oficializada em 2002, o casal que começou a namorar nos anos 90, começou a tentar engravidar, porém as tentativas não deram certo. No meio do processo, a paciente descobriu que a endometriose tinha atingido o outro ovário. A partir de então, foram 10 procedimentos cirúrgicos. Tudo para não perder o ovário direito, o que a impediria de ter um filho gerado por ela. Para tanto, ela também fez um tratamento que a fazia entrar na menopausa, para tentar frear a doença. “O médico disse que não tem cura. Esse remédio (zoladex) tem muitos efeitos colaterais, inchaço, calorões, dores horríveis e mudança de humor”, destaca em trecho retirado do livro.
Para garantir a gravidez, o casal resolveu tentar a fertilização in vitro. “Para mim, um filho não fazia diferença naquela hora. Mas era o sonho dela", comenta Vilaverde. Ele recorda que todos os procedimentos causavam dores terríveis na esposa, e que haviam combinado que se na quarta tentativa a fertilização não desse certo, partiriam para a adoção. Mas ela não queria desistir do sonho. “Depois de tantas consultas, exames e viagens, comecei, hoje (26 de junho de 2006), as injeções para a primeira tentativa de engravidar através da FIV. É tudo muito novo para mim e para o Dé, mas tudo que é novo sempre assusta um pouco e o objetivo da nossa luta é maior que tudo, não vamos desistir por nada, enquanto tivermos força, tenho certeza que vamos seguir tentando”, diz no livro.
Na última chance, dois óvulos foram fecundados. O resultado positivo da gestação veio em novembro de 2007. “Ficamos ali parados, praticamente anestesiados, enfrentando um turbilhão de emoções, medo, alívio, alegria, amor e lágrimas. Afinal, deu positivo e era o que esperávamos há muito tempo”, salienta no livro. A gestação foi de um casal de gêmeos, porém um deles acabou morrendo. “Foram quase cinco meses fazendo planos, envolvendo os gêmeos que, apesar de não os conhecermos, já faziam parte de nossas vidas e agora tudo havia desmoronado”, argumenta. Mas o outro bebê estava bem e nasceu com oito meses, no dia 26 de junho de 2008. Além de realizar o seu objetivo, Cássia acredita que estaria curada após a gravidez. Um mês após o nascimento da filha, ela voltou a sentir as dores e os exames confirmaram que a endometriose tinha voltado. Novamente, a informata teve que passar por cirurgias e retirar o ovário direito. “Foi a cirurgia mais difícil de todas por causa do medo de não ver mais a minha filha”, acrescenta no livro.
Depois de se livrar da endometriose, quando Vitória tinha 3 anos, ela voltou a sentir dores e foi operada, quando foi descoberto o câncer no intestino que, segundo os médicos, não teve a ver com a endometriose. “O médico abriu e fechou, disse que não tinha mais o que fazer. Só eu sabia disso e resolvi não contar para ela”, conta Vilaverde. A decisão, segundo ele, foi para não tirar a esperança de Cássia, que acreditava na vida por sua filha. A informata fez quimioterapia e ficou bastante debilitada, mesmo assim, não reclamava de nada e fazia questão de fazer tudo por Vitória. Cássia viveu mais seis meses após a descoberta do câncer. Desde então, Vilaverde vive para a filha.
Fonte: http://www.jornalfolhadosul.com.br/mobile/noticia/2014/01/07/endometriose-e-maternidade
