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Claudia Vasconcellos

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Aspectos sociais

Claudia Vasconcellos


 

Claudia é pedagoga e artista plástica, mas hoje trabalha no terceiro setor em projetos voltados à saúde. Portadora de endometriose desde a adolescência, tinha fortes cólicas desde a primeira menstruação, mas o diagnóstico só apareceu após 10 anos de incessante procura por um médico que pudesse ajudá-la. Dores intensas, muitos analgésicos e inseguranças. Para que tivesse condições de engravidar precisou fazer mais de uma cirurgia para eliminar alguns focos existentes na cavidade abdominal. Após um tratamento de fertilização in vitro conseguiu realizar o sonho de ser mãe… aos 40 anos! Teve trigêmeos lindos e saudáveis, hoje com 7 anos.


O diagnóstico da endometriose demorou muitos anos. Sentia cólicas desde a primeira menstruação. Cheguei a tirar um dos ovários aos 28 anos. Naquela época, ninguém sabia o que era endometriose nem conseguia precisar meu diagnóstico.

Foram dez anos de dores intensas, muitos analgésicos, dúvidas e inseguranças – sem saber do que se tratava. Finalmente encontrei um profissional que conhecia a doença.

Desde que recebi o diagnóstico até o final do meu período reprodutivo precisei fazer oito cirurgias, que foram essenciais para resgatar minha qualidade de vida, ou, pelo menos, me possibilitar viver uma vida normal. Ter consciência desta necessidade e ter acesso a um acompanhamento médico qualificado fez toda a diferença, me ajudou muito.

Finalmente consegui engravidar aos 40 anos, após um tratamento, e tive trigêmeos. Atualmente estou na menopausa, o que me deu condições de manter a doença sob controle. O importante é que nunca deixei que a doença me impedisse de viver. Hoje trabalho, produzo muito e ajudo de alguma forma outras mulheres a terem acesso a informações, ao conhecimento da doença e de como podem se tratar.

Sou presidente do IAPE, Instituto de Apoio às Portadoras de Endometriose, e trabalho como voluntária em diversos projetos na área de saúde. Ministro palestras sobre endometriose e câncer de mama.

O importante é não relaxar e ter consciência de que, em alguns casos, a endometriose pode voltar.

Sempre tive cólicas menstruais. O fato da minha mãe também ter cólicas me fez pensar, inicialmente, que era natural. Até que comecei a dividir este incomodo com as minhas amigas e descobri que eu era uma das poucas que sofria tanto.

Fiquei assustada e procurei um médico que, por ultrassom, descobriu que eu tinha um enorme cisto, e era essa a causa de tanta cólica. Ele sugeriu que eu fosse operada mas, além do medo de passar por uma cirurgia, não tinha convênio médico e não podia parar de trabalhar. Por isso resolvi ignorar a sugestão e ver no que ia dar.

As cólicas foram piorando a cada ciclo, porém com um agravante. Comecei a ter sangramentos fora do período menstrual. Minha barriga dilatava e não havia remédio que diminuísse a dor. Não podia me exercitar, fazer esforço ou ter relação sexual sem que sangrasse, e muito.

Voltei ao médico disposta a operar. Ele me explicou que tentaria eliminar o cisto por videolaparoscopia, mas se não fosse possível, realmente teria que recorrer a cirurgia. E assim foi.

Encontrou cistos no útero, nos ovários, na bexiga e no intestino. Ele não conseguiu preservar um dos ovários e então, aos 28 anos, o perdi.

Hoje sei que estes “cistos” eram focos de endometriose que se espalharam por toda a minha cavidade abdominal. O material foi para biopsia e mesmo assim não me disseram que era endometriose.

”Hoje tenho certeza de que se tivesse optado por operar no início, não teria sofrido tanto nem perdido um dos ovários”.

Dividindo minha tristeza com uma amiga, ouvi pela primeira vez o palavrão “endometriose”. Ela me indicou um ginecologista com um super conhecimento da doença. Até hoje ele me acompanha e, inclusive, nos tornamos grandes amigos.

Hoje me conheço e conheço profundamente os sintomas da endometriose – inclusive o tipo de dor que ela causa. Já cheguei a ir para consulta e pedir exames pré-operatórios por saber que havia chegado a hora de operar novamente.

A dor da endometriose é diferente. É mais intensa e mais constante. A barriga expande e em alguns meses é mais difícil controlá-la. Consegui com sucesso contornar algumas crises de dor tomando analgésicos prescritos antes do início da menstruação. Isso ajudava bastante.

Cabe lembrar que cada caso é um caso. Existem mulheres que não têm cólicas mas têm endometriose, e mulheres que têm cólicas mas não têm endometriose.

”Não existem regras nem sintomas padronizados. A maior parte das mulheres só descobre que tem endometriose após passar por vários ginecologistas ou quando tentam engravidar e não conseguem. O diagnóstico, infelizmente, ainda é precário”.


Um bom diagnóstico é feito através de exame clínico complementado por ultrassonografia transvaginal com doppler colorido e exame de sangue, o CA125, usado para detectar câncer de ovário – por ainda não haver um específico para endometriose.

Após o parto interrompi minha menstruação com um DIU (Dispositivo Intrauterino) chamado Mirena, mas logo depois veio a menopausa. Acho que a endometriose não voltará mais. Já se passaram 6 anos desde a última cirurgia… ufa!

A endometriose não tem cura, mas pode ter sua evolução interrompida através de um simples procedimento: a videolaparoscopia, que elimina os focos da doença.
Descobri no Hospital da Clínicas que a única coisa que se conhece até hoje capaz de impedir o reaparecimento da doença é a acupuntura. Testei e conferi. Fui fiel às agulhinhas durante 2 anos consecutivos com sucesso, mas cansei e parei. Em poucos meses, estava de volta ao centro cirúrgico.

Não gosto de ouvir que a endometriose ” incapacita” a mulher. Hoje a indústria farmacêutica tem condições de atender qualquer demanda. Algumas mulheres dizem que preferem sentir dor a tomar um remédio. Bem, cada um, cada um! Se tomar, melhora… Mas isso é outro assunto!

Você pode voltar a ter endometriose, ou não. Não existem regras!

Por via das dúvidas, se você for uma mulher que se cuida e faz os exames anuais, como papanicolau e preventivo, não custa nada acrescentar uma ultrassonografia.




O que mais me incomodava era sentir que alguma coisa não ia muito bem dentro de mim e não saber o que era, e depois das primeiras cirurgias ficar na expectativa de quando ela apareceria novamente… Foi o que aconteceu por muito anos.

Não tinha condições de parar de trabalhar para “curtir” a minha dor. Isso me fez aprender a conviver com ela. Meu fluxo menstrual era enorme. Meu bom humor desaparecia… Não foi fácil.

Possíveis causas? Não sei, não se sabe. Quando e como a doença começou ainda é um mistério, mas imagina-se que esteja por ai há anos… Antigamente a mulher que não conseguia engravidar era chamada de “seca”. Será que já não era a endometriose? No meu caso, acho que foi herdado da minha mãe.

Dizem que é a “doença da mulher moderna”, que atinge as mulheres perfeccionistas, estressadas, agitadas… Mas será que isso se enquadra, por exemplo, com as mulheres do sertão? A verdade é que ninguém tem certeza de nada ainda. Mas este assunto está sendo muito estudado. Quero acreditar que saberemos em breve.

Usei muito analgésico prescrito e optei por parar de menstruar. Queria ter feito isso antes. Acho que se a menstruação alimenta a endometriose, nada mais adequado, no meu ponto de vista, do que parar de menstruar – o que, convenhamos, já não é nada gostoso! Mas o melhor mesmo é perguntar ao seu médico o que ele acha. Ele pode ajudá-la melhor do que eu.


Desejava intensamente ser mãe. Tentei por várias vezes tomar remédios que ajudavam a aumentar a ovulação. Nunca tive sucesso. Por isso imaginei que jamais conseguiria. Meu médico sempre disse que por conta de tudo isso que passei, provavelmente teria menopausa precoce – o que me apavorava. O tempo passava mais rápido do que eu desejava, mas descobri que o tempo divino é diferente do nosso. Desejava tanto, pedia tanto, que acho que Deus se encheu e mandou logo 3!


A endometriose pode dificultar a conquista da gravidez, mas acredito que depois que a mulher engravida, tudo passa a ser normal, como qualquer outra gravidez. A minha foi linda e tranquila, apesar de serem 3.


As maiores dificuldades das mulheres com endometriose resumem-se na falta de diagnóstico devido à falta de profissionais com conhecimento profundo da doença. Eu soube que a endometriose é ensinada no curso de ginecologia em no máximo 4 horas! Isso e nada é quase a mesma coisa. O estudo da endometriose é complexo e de vital importância para a saúde da mulher. Se realmente for assim, acho que o curso de ginecologia deveria ser revisto.


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