Médico e robô, fazendo mais pelo paciente

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Cirurgias robóticas inauguram uma nova era no tratamento de doenças graves do aparelho digestivo

As cirurgias minimamente invasivas do aparelho digestivo têm suas aplicações expandidas com a cirurgia robótica. Já utilizada em procedimentos como o de redução do estômago de pacientes com obesidade mórbida, a robótica começa a ser utilizada na abordagem de problemas mais complexos, entre eles tumores de pâncreas, reto e esôfago, lesões do baço e endometriose intestinal profunda. Para os pacientes, isso significa ganhos importantes, como menos sangramento e risco de infecções, menos dor no pós-operatório, menor tempo de permanência no hospital e retorno mais rápido às atividades rotineiras, além do aspecto estético, já que são eliminadas as grandes incisões das cirurgias convencionais.
Tumores de pâncreas
Novas frentes

 

No Brasil, poucas instituições contam com equipamento robótico. Nele, o médico realiza a cirurgia a partir de um console computadorizado. Orientado por imagens 3D que lhe permitem enxergar com maior precisão o interior do organismo do paciente, o cirurgião comanda os controles que movimentam os braços do robô, onde estão as pinças e outros instrumentos cirúrgicos. As intervenções no paciente são feitas por incisões milimétricas. O alto grau de mobilidade e precisão do robô e a utilização de sistemas que filtram eventuais tremores das mãos proporcionam ao médico maior segurança e condições para atuar em áreas mais complexas.

É um aspecto relevante, por exemplo, em casos de câncer de reto, problema que exige a retirada da parte do órgão afetada e da camada de gordura onde estão os linfonodos cancerígenos, as metástases do tumor. “Trata-se de uma área profunda dentro da pélvis, que fica ainda mais difícil de operar quando o câncer afeta o médio e o baixo reto. É uma região repleta de nervos, que são responsáveis pelo controle da evacuação e da urina e, no caso dos homens, também da ereção e da ejaculação”, explica o Dr. Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo, cirurgião-geral do Hospital Israelita Albert Einstein, um dos pioneiros em cirurgia robótica de aparelho digestivo na América Latina.

Assim, se o médico é cauteloso em demasia a fim de evitar lesões nervosas, pode não extrair todo o tumor. Por outro lado, se for mais agressivo, pode atingir os nervos, gerando sequelas irreversíveis para o paciente. “A robótica, com a qualidade das imagens que permite ao médico observar melhor a área e a liberdade de movimentação das pinças do robô, aumenta a precisão e minimiza o risco de erros que podem lesionar esses nervos”, destaca o Dr. Macedo. Em 2009, ele e o Dr. Vladimir Schraibman, também do Hospital Israelita Albert Einstein, fizeram a primeira cirurgia robótica de ressecção de reto na América Latina. Atualmente, participam de um estudo, em uma parceria do Einstein com o Hospital do Câncer de Barretos, que tem por objetivo comparar os resultados obtidos em pacientes com câncer de reto operados por robótica (Einstein) e por laparoscopia (Barretos).

Na endometriose intestinal profunda, são semelhantes os riscos envolvidos e, portanto, os benefícios proporcionados pela robótica. A endometriose é uma doença ginecológica que afeta cerca de 10% das mulheres em idade fértil. Em uma pequena parte desses casos (5%) ocorre uma evolução do problema, acometendo também o intestino (endometriose intestinal profunda), o que provoca fortes dores na paciente e dificuldade de evacuação.

O alto grau de mobilidade e precisão do robô proporciona ao médico maior segurança e condições para atuar em áreas mais complexas

O tratamento cirúrgico envolve a retirada de um segmento do intestino e, em seguida, a reconexão. “Geralmente a região está muito inflamada, chegando a lembrar um tumor; e há risco de lesionar os nervos da região pélvica. Com a visualização e segurança proporcionadas pela robótica esse risco é minimizado. O fato é que, com o uso dessa ferramenta, temos observado uma menor incidência de complicações no tratamento de lesões graves de endometriose”, afirma o Dr. Vladimir Schraibman, responsável por um estudo pioneiro, baseado em um grande número de cirurgias robóticas para tratamento dessa doença.

Nos tumores de pâncreas, a robótica traz uma precisão fundamental não apenas na remoção da parte do órgão afetada pela doença. “Os benefícios da ferramenta robótica são particularmente relevantes no procedimento de restauração do canal biliar e da continuidade do estômago, dificilmente executável por laparoscopia”, explica o Dr. Macedo. “Conseguimos fazer a mesma cirurgia do método tradicional, só que sem abrir o abdome do paciente e com maior segurança e precisão”, acrescenta ele. Na Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh (EUA), um respeitado centro de oncologia, 80% das cirurgias de câncer de pâncreas já são realizadas com o uso de robô.

Um aspecto a ressaltar é em relação ao custo efetivo desse tipo de cirurgia. Ao contrário do que se pensa, ele pode ser até inferior ao de outros procedimentos. Um estudo realizado por especialistas do Departamento de Cirurgia da Escola de Medicina da Universidade de Indiana (EUA), que avaliou um total de 77 procedimentos, considerando os diversos fatores envolvidos (tempo de UTI e de internação, volume de sangue utilizado para transfusão, etc.), mostrou um custo total da cirurgia robótica de câncer de pâncreas equivalente a 10,5 mil dólares, contra 12,9 mil dólares do procedimento por laparoscopia e 16 mil dólares da cirurgia convencional.

Ampliando seus horizontes, a cirurgia robótica começa a ser utilizada no tratamento de tumores de baço, um órgão extremamente vascularizado. “É possível usar a laparoscopia, mas é grande o risco de sangramento na manipulação dos vasos. Também aqui, os diferenciais da ferramenta robótica agregam eficácia e segurança no procedimento”, explica o Dr. Macedo. As primeiras cirurgias desse tipo na América Latina foram realizadas este ano no Hospital Israelita Albert Einstein, incluindo um caso de aneurisma de artéria de baço, onde o risco de sangramento é ainda maior.

Com a associação de robótica e laparoscopia, a cirurgia pode ser feita com grande eficiência, sem abrir tórax e abdome do paciente

No câncer de esôfago, uma abordagem inovadora, que combina robótica e laparoscopia, vem sendo adotada em alguns hospitais pioneiros, inclusive no Brasil. Avançar nessa área é importante, pois têm aumentado os casos desse tipo de câncer associado a complicações do refluxo gastroesofágico (hérnia de hiato), um problema agravado pelos hábitos alimentares, especialmente nas grandes cidades, com consumo excessivo de gordura. Isso intensifica a atividade dos líquidos estomacais, que retornam indevidamente ao esôfago. Este, para se proteger da ação corrosiva desses líquidos, se reveste de um novo tecido, formando o chamado esôfago de Barret.

O problema pode evoluir para câncer, exigindo uma intervenção cirúrgica complexa e de grandes dimensões. É necessário retirar praticamente todo o esôfago, ou seja, cerca de 40 centímetros de tecido localizado no tórax; remodelar o estômago, transformando-o em uma espécie de tubo que vai substituir o esôfago; e levá-lo até a região do pescoço, onde será conectado a uma pequena sobra do órgão extraído.

“Com a associação de robótica e laparoscopia, a cirurgia pode ser feita com grande eficiência, sem abrir tórax e abdome do paciente. Usando o robô, fazemos a extração do esôfago e dos linfonodos, onde estão as células cancerígenas. Depois, por meio de laparoscopia, modelamos o estômago na forma do tubo que será conectado ao segmento do esôfago que foi preservado na área do pescoço. Além da precisão e segurança, com essa combinação de robótica e laparoscopia, a única incisão necessária é essa do pescoço”, afirma o Dr. Vladimir.

Por ser uma tecnologia recente, ainda há poucos estudos disponíveis na área de Gastroenterologia comparando cirurgias robóticas com procedimentos convencionais e laparoscópicos. Mas, pelas vantagens que traz para os cirurgiões e para os pacientes, é possível ter uma certeza: com a robótica, estamos vivendo o início de uma nova era, com procedimentos mais complexos e minimamente invasivos do aparelho digestivo.

Fonte:http://www.einstein.br/pagina-einstein/Paginas/medico-e-robo-fazendo-mais-pelo-paciente.aspx


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