Endometriose, a vilã da maternidade

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Aprenda a evitar a doença, principal causa de infertilidade feminina

Marcela Rodrigues Silva

A empresária Luana Saraiva, de 30 anos, já perdeu a conta de quantos compromissos e viagens perdeu por causa das fortes cólicas que a acompanham desde o início de seu ciclo menstrual, aos 9 anos. Ela descobriu o porquê de tantas dores só aos 25 anos, quando recebeu o diagnóstico de endometriose: doença que atinge de 10% a 15% das brasileiras em idade reprodutiva e representa a principal causa de infertilidade feminina. Hoje, após cinco cirurgias para tratar a doença e cinco tentativas de fertilização artificial (in vitro), Luana luta para realizar o sonho de ser mãe. “Os meus óvulos ficam mais comprometidos a cada cirurgia. Mas eu e meu médico não desistimos”, garante.


Luana tem endometriose no estágio 4, o mais avançado da doença. Metade das mulheres com esse tipo de patologia, segundo a Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE), tem dificuldades para engravidar. O diagnóstico tardio seria uma agravante. “O diagnostico acontece, em média, entre os 25 e 30 anos. No Brasil, entre o primeiro sintoma e a descoberta da doença, leva-se oito anos, em média”, afirma o presidente da SBE, Maurício Simões Abrão. 
A agressão da doença ao corpo da mulher, quando somada às características anatômicas e hormonais da idade avançada, dificultam ainda mais a gravidez, de acordo com o especialista em reprodução humana Carlos Alberto Petta, vice-presidente da SBE. “Jovens até os 35 anos que fazem a cirurgia da laparoscopia, necessária para tratar a doença, têm mais chances de engravidar naturalmente. Após os 40, fica muito mais difícil. No geral, a infertilidade deve ser investigada após um ano de tentativas frustradas”, diz Petta. 
Para estar no grupo de risco basta ser mulher em idade reprodutiva (período entre a primeira e a última menstruação) e ter um ritmo de vida estressante. Não é à toa que a endometriose é apontada pelos especialistas como a doença da mulher moderna. O próprio adiamento da maternidade, fenômeno comum na atualidade, tem relação com a patologia. “No início do século passado as mulheres menstruavam 40 vezes ao longo da vida, tinham mais filhos e por isso o ciclo menstrual era interrompido. A mulher moderna menstrua 400 vezes na vida. Ela vive mais e engravida menos, além de se desdobrar em diversas funções”, compara Abrão. Segundo Petta, passar pelo exame de ultrassonografia intravaginal pode ajudar a identificar a doença. “Por isso, é importante fazer consultas regulares ao ginecologista”, completa.
O ginecologista Alexandre Pupo, obstetra do Hospital Sírio-Libanês, lembra que a endometriose é tratada com melhor precisão por meio da laparoscopia - um procedimento cirúrgico guiado por imagens, no qual são feitos vários furinhos com agulha no umbigo da paciente, sob efeito de anestesia, para retirar os pontos da doença no organismo. “Metade das mulheres consegue engravidar naturalmente após essa cirurgia”, assegura o médico. 
Para Pupo, os sinais clínicos apresentados pela paciente são essenciais na hora de optar pela cirurgia. “A conversa com o médico e o exame de toque são medidas simples, porém muito eficazes para buscar pistas da doença. A endometriose está ficando tão presente na vida das brasileiras que, em minha rotina de cirurgias, a mais comum é a laparoscopia”, comenta o médico. 
Além das cólicas intensas e da infertilidade, completam o quadro de sintomas da endometriose as dores para evacuar, diarreia e incômodo durante a relação sexual. “A dor na relação sexual não é a da penetração. É como se o pênis batesse em algum órgão interno”, diz Pupo. “Muito se discute hoje sobre a gravidez da paciente com endometriose. Muitas vezes, a cura está associada à retirada do útero, mas a mulher pode optar por apenas controlar a doença e não retirá-lo, para não perder a capacidade reprodutiva”, completa.
A gravidez, segundo Petta, quando alcançada pela paciente, se torna uma espécie de cura. “Uma vez que a mulher com endometriose engravida, a doença regride, sendo mais fácil de ser controlada”, garante.

Prevenção
Para evitar a endometriose, a mulher deve adotar algumas medidas preventivas desde a primeira menstruação, tais como: manter uma alimentação balanceada, praticar atividades físicas, fugir do estresse e visitar o ginecologista periodicamente, no mínimo 
uma vez por ano. “Mesmo após a laparoscopia é importante investir em qualidade de vida para ajudar no controle da doença”, diz Abrão.


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