Segundo um novo estudo, períodos menstruais dolorosos que interfiram na vida normal de algumas adolescentes podem sinalizar um risco aumentado de desenvolver a forma mais extensa de endometriose.

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Na endometriose, pedaços do tecido que revestem o útero (endométrio) também crescem fora do órgão, geralmente nos ovários, nas trompas de Falópio, ou em outras partes da pelve. Como o endométrio, essas alterações teciduais equivocadas mudam em cada ciclo menstrual, endurecendo e, em seguida, se quebrando e sangrando.

Isto leva a um acúmulo de aderências ou cicatrizes fora do útero, com sintomas como dor pélvica e períodos menstruais dolorosos e pesados. Algumas mulheres também têm dificuldade para engravidar.

Há três formas de endometriose: endometriose superficial, endometriomas de ovário, e endometriose profunda, sendo esta última a forma mais extensa. Mulheres com endometriose profunda geralmente têm cicatrizes em várias áreas da bacia, incluindo vagina, bexiga, intestino e ligamentos que anexam o útero na pelve.

Pesquisadores franceses estudaram 229 mulheres submetidas à cirurgia de endometriose, com idade média no momento da cirurgia de 32 anos. Todas realizaram a cirurgia em um único centro médico entre 2004 e 2009. 43% tinham endometriose profunda, e o resto tinha as formas menos extensas. As mulheres foram entrevistadas sobre seu histórico de sintomas.

Os pesquisadores descobriram que as que tinham endometriose profunda eram mais propensas a ter menstruações dolorosas quando adolescentes. Como grupo, elas eram quatro vezes mais propensas do que mulheres com endometriose não profunda a terem usado pílulas anticoncepcionais para tratar dor menstrual severa antes dos 18 anos, e eram 70% mais propensas a dizer que tinham perdido dias de aula por causa de sintomas menstruais.

Globalmente, 58% das mulheres com endometriose profunda haviam tomado pílulas para tratar dor menstrual severa, contra 26% das mulheres com formas menos extensas. Da mesma forma, 21% das mulheres com endometriose profunda tiveram sua primeira prescrição antes dos 18 anos, comparado com 6% do outro grupo.

Quanto aos dias de ausência à escola, 38% das pacientes com endometriose profunda afirmaram que faltaram à escola devido a sintomas menstruais, contra um quarto das mulheres do outro grupo.

Mulheres com endometriose profunda também tinham mais probabilidade de relatar histórico familiar de endometriose. 13% dessas mulheres relataram histórico familiar, em comparação com pouco menos de 5% das pacientes de formas menos extensas.

A endometriose pode ser complicada de diagnosticar, e muitas mulheres passam anos com a doença sem um diagnóstico. A condição pode, por exemplo, ser confundida com outras causas de dor pélvica, como cistos ovarianos, doença inflamatória pélvica ou, dependendo dos sintomas, síndrome do intestino irritável.

Além disso, embora exames pélvicos ou teste de ultra-som sejam muitas vezes usados para ajudar a diagnosticar endometriose, a única maneira de diagnóstico definitivo da doença é através de cirurgia laparoscópica minimamente invasiva, para tirar uma amostra de tecido.

Em comparação com as outras formas de endometriose, a profunda parece ter um atraso maior para ser diagnosticada. Agora, os resultados obtidos sugerem que esses problemas na adolescência podem predizer, por vezes, um diagnóstico de endometriose profunda.

O estudo tem uma série de limitações, incluindo o fato de que as mulheres pesquisadas tinham que se lembrar de sintomas da adolescência. Um estudo que acompanhasse mulheres jovens ao longo do tempo para ver se os sintomas previam um diagnóstico seria mais informativo. Mas os pesquisadores esperam que os resultados obtidos definam as bases para esse estudo a longo prazo.

Porém, o centro do problema é se o diagnóstico precoce da endometriose levará à diminuição de casos profundos e a menor necessidade de cirurgia, pois segundo os pesquisadores, hoje, não há nenhuma maneira eficaz de prevenir a progressão da endometriose em seu estágio mais grave.

Além disso, os resultados atuais sugerem que o tratamento da dor menstrual severa com pílulas anticoncepcionais não impede a progressão para a forma profunda, no entanto, também não significa que as pílulas contribuíram para o desenvolvimento da forma profunda.

Ainda assim, mesmo que não esteja claro se a progressão para a forma profunda pode ser prevenida, o diagnóstico precoce da endometriose seria útil. De acordo com os pesquisadores, meninas e mulheres com dor menstrual severa que não respondem a analgésicos como ibuprofeno devem ver seus médicos e, se necessário, serem avaliadas para a endometriose.

Além de analgésicos e pílulas, tratamentos não-cirúrgicos para a endometriose incluem vários tipos de medicamentos hormonais que inibem o crescimento do tecido endometrial.

Natasha Romanzoti tem 21 anos, é estudante de jornalismo, apaixonada por futebol (e corinthiana!) e livros de suspense, viciada em séries e doces e escritora nas horas vagas

Fonte: www.hypescience.com


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