O que é? Pode manifestar-se na adolescência?

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Qual é a forma de tratamento?
Quem sofre de endometriose pode ficar impossibilitada de ter filhos no futuro?


Muitas adolescentes, assim como mulheres maduras, podem desconhecer que sofrem de endometriose, apesar de ser possível terem sintomas como: fortes dores menstruais, dores abdominais fora do período menstrual ou menstruações mais abundantes, que, em muitos casos, se consideram "próprios" do ciclo menstrual.

A endometriose é uma doença benigna que afecta as mulheres ao longo da sua vida reprodutora e, portanto, pode aparecer na adolescência, já que os sintomas podem começar após a primeira menstruação. É uma doença de incidência crescente que afecta milhões de mulheres em todo o mundo e causa uma enorme variedade de sintomas, pelo que, para além dos efeitos físicos, pode provocar efeitos psicológicos associados.

A endometriose ocorre quando o endométrio (camada de mucosa que reveste o útero por dentro) se encontra fora do seu lugar de origem, que é o útero. Este tecido incorrectamente desenvolvido é capaz de se instalar em qualquer sítio do abdómen, e inclusive, em lugares mais estranhos, como o umbigo ou os pulmões. 

O tecido instala-se sob a forma de placas com diferentes designações. Chamam-se implantes quando são pequenas, nódulos quando são maiores e endometriomas quando formam quistos nos ovários. Os quistos endometriósicos ou endometriomas contêm sangue no seu interior, o que lhes confere uma coloração castanha avermelhada escura, pelo que, coloquialmente, se designaram “quistos de chocolate”. O seu tamanho pode variar desde um ou dois centímetros até dez ou quinze. Se a endometriose penetrar na parede uterina sob a forma de raízes, denomina-se adenomiose, o que faz com que o útero aumente de tamanho, se torne mais avermelhado e mole e seja mais doloroso. 

Além disso, esta doença pode ter um componente inflamatório, o que, por sua vez, causa aderências, isto é, pontes de tecido, responsáveis pelo facto dos órgãos aderirem entre si, que podem abranger o útero, os ovários, as trompas e o intestino. 

Apesar do tema ser alvo de investigação há décadas, ainda não existe uma explicação concreta dos motivos pelos quais algumas mulheres têm endometriose e outras não. No entanto, actualmente existem várias teorias acerca do porquê desta doença, entre as quais se destacam as seguintes. 

Uma teoria defende que uma parte da menstruação escorre pelas trompas e cai no abdómen, em vez de ser expulsa para o exterior. No entanto, isto acontece em muitas mulheres que, por outro lado, nunca desenvolverão endometriose, pelo que esta explicação não soluciona completamente o problema. 

Outra teoria aponta para um possível defeito da imunidade responsável pela “limpeza” de micróbios e de células anormais no abdómen. Não se trata de uma diminuição do número de defesas, mas sim de uma menor qualidade das mesmas. Tal impediria que as células endometriais (normalmente, apenas presentes dentro do útero) fossem reconhecidas como estranhas e deixar-lhes-iam o caminho livre para depositarem os seus fragmentos nos órgãos internos.
Além disso, a investigação demonstra que as familiares de primeiro grau de mulheres com esta doença têm maiores probabilidades de desenvolverem endometriose, pelo que, seguramente, existem também factores hereditários envolvidos na sua origem. 

Relativamente à sua evolução, a endometriose é um processo imprevisível. Por este motivo, algumas mulheres apresentam pequenos implantes que não se alteram ao longo dos anos, enquanto noutras é possível que se desenvolva extensamente dentro da pélvis. 

Os sintomas da endometriose também variam muito. Em alguns casos, pode não haver nenhum sintoma (a endometriose é diagnosticada por acaso durante uma operação ao abdómen, por outros motivos). No entanto, noutros casos, a irritação interna do abdómen e as aderências podem causar: 

- Fortes dores menstruais (dismenorreia).
- Dores abdominais fora do período menstrual. 
- Dor nas relações sexuais (dispareunia).
- Menstruações mais abundantes (hipermenorreia).
- Dor ao evacuar (disquesia).
- Problemas de fertilidade. 

A intensidade e a frequência destes sintomas são variáveis e dependem de cada caso, para além de poder surgir um único sintoma isolado ou vários ao mesmo tempo. Em situações mais excepcionais, a endometriose pode mesmo afectar a bexiga com a urina –causando desconforto com a micção e pequenas perdas de sangue – e o intestino – onde pode dar dores abdominais semelhantes a espasmos e à diarreia –. 

O diagnóstico da endometriose não pode ser feito apenas com base nos sintomas apresentados por cada paciente. Muitas vezes, para se poder chegar a um diagnóstico correcto, além do exame ginecológico, devem realizar-se outros exames complementares para concretizar a existência e a gravidade de cada caso. Estes exames podem ser: a ecografia ginecológica e análises ao sangue e, em casos mais graves, a laparoscopia (que é uma intervenção que permite uma visão do interior da cavidade abdominal através de pequenas incisões de poucos milímetros, por onde se introduzem os instrumentos de trabalho) ou outras técnicas de diagnóstico especiais, como o TAC (tomografia axial computorizada) ou a RMN (ressonância magnética nuclear). 

O tratamento da endometriose requer uma análise completa da mulher que deve ser aconselhada. Antes de decidir um tratamento, há que considerar a idade, os sintomas e o desejo de fertilidade. Assim, na adolescência, normalmente, a prioridade é neutralizar a dor e, em alguns casos, pode ser suficiente um tratamento médico com fármacos, principalmente contraceptivos hormonais. No entanto, outras pacientes necessitarão de um tratamento médico e cirúrgico combinado. Em pacientes adolescentes, quando se faz tratamento cirúrgico, este deve ser eficaz mas pouco agressivo, já que o objectivo posterior é poder ter filhos no futuro, por isso tenta-se eliminar ao máximo a doença conservando todo o tecido saudável que seja possível. 

Embora o tratamento aumente as probabilidades de sucesso de uma futura gravidez, por vezes a endometriose pode diminuir a fertilidade da mulher, ou mesmo afectá-la irremediavelmente, visto que esta doença afecta diversos factores, incluindo a ovulação, tanto qualitativa como quantitativamente.

 

Fonte www.evax.pt/tvh/dudoteca/67


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