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Endometriose: diagnóstico e tratamento

 

A 59ª edição do Projeto Pauta Feminina reuniu especialistas nesta quinta-feira (27) para discutir diagnóstico, tratamento e intervenções que impactam a vida das portadoras de Endometriose.

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A 59ª edição do Projeto Pauta Feminina reuniu especialistas nesta quinta-feira (27) para discutir diagnóstico, tratamento e intervenções que impactam a vida das portadoras de Endometriose.

 

A doença já recebeu o título de “Doença da Mulher Moderna” e se caracteriza pela presença de células do endométrio – camada que reveste o útero internamente – em outros lugares e órgãos do corpo, como ovários, intestino ou bexiga.

A Organização Mundial da Saúde estima que quase 180 milhões de mulheres enfrentam a endometriose no mundo.  Só no Brasil são cerca de 7 milhões, algo como uma a cada dez mulheres em idade reprodutiva.

Emília Fernandes, senadora e presidente do Fórum de Mulheres do Mercosul, mediou o debate e destacou a importância de discutir temas de utilidade pública, “é muito necessário esse diálogo entre o Congresso e a sociedade civil. É um tema de utilidade pública que precisa entrar na pauta política”.

Jornalista de formação, Caroline Salazar, descobriu a doença aos 31anos de idade, 21 anos depois de começar a sentir dores severas, sofrer preconceito e ficar desempregada. Em 2010 idealizou o blog pioneiro A Endometriose e Eu, que retrata de forma simples e direta sua vivência com a doença, opiniões de médicos e cientistas renomados do mundo todo e a luta de milhares de mulheres por políticas públicas efetivas.

“É um grande orgulho ter idealizado esse projeto. A endometriose tirou a única coisa que eu queria para minha vida: trabalhar. Queria ser uma grande jornalista, tinha muitos sonhos, entrei em depressão e pensei até em morrer. Então a endometriose me trouxe para essa outra vida, que agora eu amo de paixão. Hoje eu estudo e respiro endometriose quase 24h por dia”, orgulhou-se Caroline.

Dr. Eduardo Ribeiro do Valle, médico especialista em Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva com mais de 20 nos de dedicação exclusiva a especialidade, deu destaque a origem da doença, sua intensidade, sintomas, diagnóstico e tratamento. “A endometriose pode estar presente no organismo da mulher desde a vida embrionária ou ser implantado e espalhado progressivamente a partir das primeiras menstruações ou durante cirurgias. Ela não atinge só o útero, mas todo o complexo pélvico”, pontuou.

A infertilidade é uma das principais consequências da doença pois o processo inflamatório progressivo causado pela endometriose pode comprometer a função dos órgãos e tecidos envolvidos. Dra. Hitomi Miura Nakagawa, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, analisa sempre dois processos nas portadoras: dor e a perspectiva de reprodução.

“O ideal é que ela engravide em fases precoces, porque a endometriose não causa infertilidade em todas as mulheres. Dessa forma, uma das armas fortes que temos contra a doença são os projetos e as ações de divulgação. Educar os profissionais para que eles trabalhem com prevenção”, propôs Dra. Hitomi.

A imprecisão do diagnóstico foi apontada como fator decisivo para o sofrimento, a insegurança e a falta de orientação enfrentada pela portadora de endometriose.  Paula Lemos, de 29 anos, relatou ter consultado vários médicos no serviço privado de saúde e foi submetida a uma histerectomia há três anos, procedimento considerado por ela precipitado. “Sofri preconceitos em todos os ambientes de convivência, entre eles assédio moral no trabalho e também na faculdade. Hoje tenho síndrome miofascial e ainda sinto dores.  Dois meses após a cirurgia os sintomas voltaram, ou seja, a mulher fica sujeita a tantas mazelas e sabemos que tudo isso pode ser evitado se a conduta médica fosse diferente”.

Ela destaca a importância da formação dos estudantes ainda na universidade e chama atenção para o projeto de lei nº 5559/2016, em análise na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, que garante o direito à informação ao paciente antes de adotadar as condutas médico-cirúrgicas.

Responsável nacional pela Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, a ginecologista Mônica Neri garantiu que o órgão está determinado a fazer uma força tarefa para que as mulheres possam vir a ser consideradas do ponto de vista dos ciclos de vida. Segundo ela, esse compromisso faz parte dos Objetivos do Milênio, tratado internacional do qual o Brasil é signatário e que indica como conduta a promoção, a prevenção e a proteção da saúde como linhas de cuidado para as mulheres com endometriose.

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) foi representado por Francisca Valda, em nome do presidente do órgão de controle social, Ronald Santos. Ela garantiu que o CNS é parceiro e lamentou que o tema não tenha sido incluído no Relatório da segunda Conferência Nacional de Saúde da Mulher, ocorrida em Brasília em novembro de 2017. Segundo ela, a discussão de hoje será levada ao pleno do órgão com a sugestão de estudos técnicos para gerar dados capazes de subsidiar iniciativas de políticas de esclarecimento sobre todos os aspectos da doença. “É importante que o tema seja tratado como prioridade na agenda dos gestores com o apoio de organizações da sociedade civil”, alertou.

Participaram: Caroline Salazar, jornalista, idealizadora do blog “A Endometriose e Eu” e capitã brasileira da Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose; Eduardo Ribeiro do Valle, médico especialista em Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva; Francisca Valda, Conselheira Nacional de Saúde e Coordenadora Adjunta da Comissão Intersetorial de Saúde das Mulheres; Hitomi Miura Nakagawa, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida; Mônica Neri, coordenadora-geral de Saúde das Mulheres do Ministério da Saúde e Paula Lemos, portadora de endometriose e coordenadora da Endomarcha em Brasília.

Fonte: https://www12.senado.leg.br/institucional/procuradoria/comum/endometriose-diagnostico-e-tratamento